Amy Winehouse via a escrita de canções como um reflexo autêntico de si própria, transportando nelas as suas vivências, mas, também, uma grande paixão pela literatura. A sua coleção pessoal de mais de 200 obras revela autores como J.D. Salinger ou Charles Bukowski e obras como Uivo, de Allen Ginsberg, e Do Alto da Ponte, de Arthur Miller, influenciaram as suas letras introspetivas.

Lia avidamente, fazia anotações e o seu estilo e referências musicais, que iam de Frank Sinatra a girl groups dos anos 60, alinhavam-se com as escolhas literárias. Os seus excessos, imortalizados em canções como Rehab ou Addicted e que levaram à sua morte precoce, encontravam paralelos em músicos como Jimi Hendrix ou Boy George, cujas biografias terá lido em busca de identificação ou respostas. Winehouse cantava paixões e dores com lirismo visual e dramático, mas o seu amor pela literatura ajudou-a, definitivamente, a transformar-se num mito.

*Os exemplares selecionados apresentam intervenções manuscritas e marcas que os tornam únicos. Entre eles, há livros com anotações feitas à mão, uma lista de convidados escrita no final e até o fragmento de uma canção inacabada. Alguns mostram sinais de uso pessoal, como uma marca de batom vermelho ou marcas de leitura e humidade, sugerindo uma ligação íntima entre a própria Amy e as suas obras.

"I could spend a lot of time in bookshops."

- Amy Winehouse

Um olhar íntimo, e revelador sobre a esfera privada e criativa na vida de uma das artistas musicais mais marcantes do início do século XXI.

I. ADOLESCÊNCIA

Amy Winehouse era uma leitora ávida, e a sua coleção de livros revela muito sobre a sua adolescência. Obras como À Espera no Centeio, de J.D. Salinger, marcaram a sua juventude e influenciaram a sua sensibilidade artística. Durante essa fase, mergulhou também no universo de Harry Potter, como é possível observar na edição "adulta" de Harry Potter and The Half-Blood Prince. A sua paixão pelo teatro aparece em Little Shop of Horrors, peça cujo elenco integrou na escola de teatro. Além disso, Amy gostava dos romances populares, como os de Jackie Collins. Livros que mostram uma jovem curiosa, apaixonada por cultura pop e já com um olhar afiado para a narrativa e música.

II. NERD

Entre os muitos livros que Amy Winehouse colecionava, os romances gráficos ocupavam um lugar especial. Com quase um quarto da sua biblioteca dedicada ao género, é evidente que tinha um apreço particular pelas histórias visuais. Os irmãos Hernandez, criadores da série Love and Rockets, eram os autores mais presentes na sua coleção, ao lado de outros títulos como Torpedo, Luba ou The Walking Dead. O seu gosto pela banda desenhada reforça a sua paixão pela narrativa visual e pelo estilo alternativo, refletindo a estética única que também marcou sua carreira musical.

III. OS ARTISTAS 
A ligação de Amy Winehouse com a arte ia muito além da música. A sua coleção de livros incluía biografias de artistas que, como ela, enfrentaram intensos desafios pessoais. Jimi Hendrix, Boy George, Alex James e Anthony Kiedis eram alguns dos músicos que preenchiam as suas prateleiras, mostrando o seu interesse pelas histórias de ascensão e queda no mundo da música. Além disso, tinha ainda títulos sobre cinema e teatro, como livros sobre Marlon Brando e Bob Fosse revelando algumas das suas inspirações e referências.

IV. A LITERATURA

A leitura sempre teve um papel fundamental na vida de Amy Winehouse, e a sua paixão por certos autores é também um reflexo da sua visão artística e emocional. J.D. Salinger, um dos seus escritores favoritos, ajudou a moldar a sua sensibilidade lírica e narrativa, o olhar ácido e realista de Charles Bukowski encontra eco na melancolia das suas canções, assim como a autoconsciência presente em Lolita, de Vladimir Nabokov, se percebe em versos como "I’ll be some next man’s woman soon". No seu exemplar de Howl, de Allen Ginsberg, a cantora anotou versos de uma canção nunca finalizada. Essas influências literárias ajudaram a construir a profundidade emocional e poética das suas músicas.