Bichos, Miguel Torga

Bichos, de Miguel Torga, reúne catorze contos, onde humanos e animais partilham características, colocando questões fundamentais sobre a sociedade e a própria existência. O Homem é, neste livro, mais um bicho entre os outros, e não ocupa um lugar privilegiado na criação, pondo em causa Deus, liberdade e a relação do indivíduo com elas. Este clássico da literatura portuguesa foi publicado pela primeira vez em 1940. 

Miguel Torga

Adolfo Correia da Rocha, mais conhecido pelo pseudónimo literário Miguel Torga, nasceu em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes, a 12 de agosto de 1907. Formou-se como médico depois de regressar do Brasil e, durante a sua carreira, escreveu poesia, romance e teatro. Ganhou vários prémios literários, entre eles o Prémio Camões, em 1989, e foi várias vezes indicado para o Prémio Nobel da Literatura. Morreu aos 87 anos, em Coimbra.

Um autor perseguido pelo Estado Novo

Miguel Torga foi um forte crítico do Estado Novo, o regime político ditatorial que vigorou em Portugal, de 1933 a 1974. Viu 13 dos seus livros fustigados pelo ‘lápis azul’ da censura, foi preso na década de 30 e teve a sua vida pessoal escrutinada, não só pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), mas também pela Comissão de Censura. 
Apesar de ter sido várias vezes perseguido e interpretado pela PIDE, continuou a publicar os seus livros. Mais do que isso, por ter sido apelidado de escritor comunista, Miguel Torga chegou mesmo a enviar um livro a Salazar, para que o ditador pudesse comprovar se a sua escrita era realmente a de um comunista.

Espólio da Coimbra Editora na Livraria Lello

No espólio da Coimbra Editora que a Livraria Lello comprou, em 2020, foram encontradas várias obras de Miguel Torga, incluindo primeiras edições que comprovam a atividade clandestina desta editora histórica durante o Estado Novo. Bichos, A Criação do Mundo, Vindima, Os Novos Contos da Montanha e Rua são alguns dos livros que, apesar de proibidos pela PIDE, foram distribuídos com o cunho da editora. Estes livros de Miguel Torga, bem como publicações de Salazar e Marcelo Caetano, e obras de Vergílio Ferreira e Eugénio de Andrade, estão em exposição na Sala GEMMA, num espaço que a Livraria Lello dedicou à preservação do património histórico da editora que fechou portas no ano em que celebrava 100 anos de existência.