gmail.com, yahoo.com, hotmail.com, outlook.com, icloud.com, aol.com, mail.com, protonmail.com, zoho.com, yandex.com, live.com, qq.com, 163.com, 126.com, sina.com, rediffmail.com, rocketmail.com, t-online.de, web.de, orange.fr, laposte.net, yahoo.co.uk, btinternet.com, libero.it, tin.it, naver.com, hanmail.net, yahoo.co.jp, docomo.ne.jp, ezweb.ne.jp, mail.ru, bk.ru, list.ru, inbox.ru, yandex.ru, yandex.ua, yandex.by, yandex.kz, yandex.com.tr, gmx.net, gmx.com, webmail.co.za, yahoo.com.br, hotmail.co.uk, hotmail.fr, hotmail.de, hotmail.com.au, hotmail.es, hotmail.it, hotmail.com.mx
A Fundação Livraria Lello abre portas com uma exposição sobre desinformação. Mais informações no menu.
ENTRADA NA LIVRARIA LELLO

Eça de Queirós escritor

eça
O título deste texto parece inexpressivo, uma vez que Eça de Queirós não é outra coisa que não seja escritor, condição que não suscita dúvidas. Aquele título, contudo, remete para diversos aspetos menos evidentes da existência da condição referida, assumindo alguns deles um significado especial, quando analisados no contexto em que surge esta reflexão.  
Isto quer dizer que um escritor como Eça dificilmente seria o que é sem editor, porque, em princípio, ele é parte destacada da produção literária, em geral. Não que o escritor não possa sê-lo por si só, como já aconteceu e acontece (falamos, então, em edição de autor), incluindo com Eça de Queirós, que tratou, ele mesmo, do processo editorial d’A Relíquia. Mas não é isso que usualmente se passa.  

Antes de avançar, recordo aquilo que nem sempre é devidamente ponderado: em vida, Eça foi um escritor de poucos livros, coisa que se nos torna mais evidente quando o comparamos, por exemplo, com Camilo Castelo Branco. Entre 1876, data da segunda versão d’O Crime do Padre Amaro, e 1900, ano em que morreu, Eça publicou, como autor individual, apenas seis títulos: O Primo Basílio (1878), O Crime do Padre Amaro (1880; 3ª versão), O Mandarim (1880), A Relíquia (1887), Os Maias (1888) e Uma Campanha Alegre. Das Farpas (1890-91; 2 vols.). A lista aumenta ligeiramente, se considerarmos um livro em coautoria: O Mistério da Estrada de Sintra (1870, com Ramalho Ortigão).  

Acontece, entretanto, que, à data da morte de Eça, a 16 de agosto de 1900, havia três obras suas em produção editorial muito avançada ou praticamente terminada. Refiro-me aos volumes A Correspondência de Fradique Mendes, A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras, títulos de relevância inquestionável, mas que, pela razão apontada, devem ser considerados semipóstumos (os três foram publicados pela então designada Livraria Chardron de Lello & Irmão). Depois destes, foi o caudal que se sabe: coletâneas de artigos de imprensa e de textos dispersos, relatos ficcionais e de viagem, correspondência particular, etc. Forma-se, então, um vasto elenco de edições póstumas, novamente da Livraria Chardron de Lello & Irmão e contando também com a intervenção de amigos e de familiares do escritor. Desta lista, os títulos mais conhecidos são os Contos (1902), Prosas Bárbaras (1903), A Capital (1925), O Conde de Abranhos (1925) e Alves & C.ª (1925).

O que aqui fica não esgota, como é óbvio, a caracterização do campo bibliográfico queirosiano nem dos problemas que ele envolve. Disso trata a edição crítica das obras de Eça, em curso de publicação pela Imprensa Nacional (22 títulos, ate ao momento) e que, desejavelmente, deve servir de matriz para outras edições. O que agora quero sublinhar é o seguinte: em vida, o escritor Eça de Queirós manteve uma intensa relação com os seus editores, atestada em diálogos epistolares muito significativos, por exemplo, com Jules Genelioux e Mathieu Lugan. 

Esses diálogos mostram uma personalidade autoral sempre insatisfeita com o resultado do seu labor artístico e com alguns incidentes que rodearam a edição dos seus livros. Dois casos: a primeira edição d’Os Maias passou por dissabores consideráveis; por causa de incidentes vários com a tipografia, uma parte do grande romance de Eça poderia ter-se perdido. Segundo caso: quando apareceu a terceira edição d’O Primo Basílio, em 1887, Eça queixou-se amargamente ao editor, por não lhe ter sido consentido fazer aquilo que designou, em carta a Genelioux, uma “revisão de estilo”. Provavelmente, o editor tinha a noção de que aquela “revisão” significava, verdadeiramente, uma total reescrita do romance, indo muito além de uma simples reedição, como tinha acontecido com O Crime do Padre Amaro. E assim, d’O Primo Basílio pode bem dizer-se que está entre o que Eça quis e o que o editor não deixou. Isso não impede, todavia, que ele seja o grande romance que conhecemos.

Artigo redigido por: Carlos Reis

Blogue “Queirosiana”
https://queirosiana.wordpress.com/ 

Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós
https://imprensanacional.pt/collection/ed-critica-de-eca-de-queiros/