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NOBEL DA LITERATURA NO FEMININO: 5 AUTORAS QUE TEM DE CONHECER

Selma Lagerlöf: a primeira mulher a vencer o Nobel da Literatura

Em 1909, Selma Legarlöf foi a primeira mulher a vencer o galardão maior das Letras, numa escolha envolta em polémica, devido ao seu estilo de escrita vanguardista para a época. No final do século XIX, a literatura sueca era dominada pelo realismo naturalista. Ora, a obra de Legarlöf é povoada por gnomos, duendes e fantasmas, que recriam a atmosfera das histórias de encantar e lendas populares do país.

Entre os livros mais célebres da autora, destacam-se A Lenda de Gösta Berling (1891), Os Laços Invisíveis (1894), O Tesouro (1904) e A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia (1906-1907), que foi adotado em todas as escolas suecas e traduzido para mais de 50 línguas. Na obra da escritora encontra-se ainda O Imperador de Portugal (1914). O livro conta a história de um pobre camponês sueco que enlouquece e fantasia que a filha é Imperatriz de Portugália, uma região onde os habitantes comem laranjas e uvas, bebem vinho do Porto e falam português.

Toni Morrison: a voz da mulher afro-americana

Em 1993, voltou a fazer-se história: a primeira mulher negra venceu a mais alta distinção das Letras. Toni Morrison elevou, assim, a voz da mulher afro-americana ao patamar maior da Literatura. 

Aquando da receção do Nobel, a autora afirmou que “escrever enquanto mulher negra não é partir de um lugar superficial ou vazio, mas de um lugar fértil. Não limita a imaginação, expande-a”. A defesa da igualdade racial e de género está, aliás, bem patente nos seus livros, com mulheres afro-americanas de caráter forte a assumirem um papel central.

Toni publicou o primeiro romance, The Bluest Eye (1970), aos 39 anos. Na altura, divorciada, a trabalhar como editora e com dois filhos pequenos a cargo, levantava-se de madrugada para poder escrever. A sua obra reflete todas essas experiências. Para além de romances, publicou ensaios, livros infantis, poesia e até libretos para ópera. Beloved (1987), um dos seus livros de maior êxito, foi adaptado para o cinema, num filme protagonizado por Oprah Winfrey e Danny Glover.

Svetlana Alexijevich: a literatura que retrata a realidade 

Svetlana Alexijevich é o terceiro nome a reter. Escritora e jornalista, desenvolveu uma escrita única. Num novo género de não-ficção, cruza as melhores qualidades narrativas da tradição literária em língua russa, com a prosa documental. Foi distinguida pela Academia Sueca em 2015.

A autora bielorussa, nascida na Ucrânia, começou por escrever, desde cedo, poemas e artigos para os jornais escolares. A escrita com base na realidade acabou por tomar o lugar de destaque no seu percurso e levou-a a estudar jornalismo, na Universidade de Minsk. Em 1985, lançou-se definitivamente na literatura com a publicação do livro A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, no qual aborda o tema das mulheres russas que participaram na Segunda Guerra Mundial. Desde então, o universo literário de Alexijevich foi revelando, com uma perícia única, a história de mulheres e homens soviéticos e pós-soviéticos.

 As Últimas Testemunhas (1985), Rapazes de Zinco (1991), Encantado com a Morte (1993), Vozes de Chernobyl (1997) e O Fim do Homem Soviético (2013) completam a sua obra. Algumas destes livros foram adaptados para peças teatro e documentários

Olga Tokarczuk:  pensar o mundo através da prosa

Feminista, ecologista e defensora dos animais, Olga Tokarczuk usa a prosa para pensar – e fazer pensar – o mundo dos nossos dias. A mestria com que o faz, valeu-lhe, em 2018, o Prémio Nobel da Literatura.

Tokarczuk formou-se em Psicologia, nos anos 80, e ainda exerceu atividade clínica, mas a sede de liberdade acabou por conduzi-la até à escrita. Começou a escrever durante uma das suas muitas viagens. Cidade em espelho (1989), uma coletânea de poemas, foi o primeiro livro. Desde então, não parou de viajar e de escrever. Em 1996, publicou o primeiro grande sucesso, Outrora e Outros Tempos, onde aborda a história recente da Polónia e começa a experimentar um registo literário livre, composto por micro-histórias interligadas. Viagens (2007) é a síntese do espírito inquieto e tornou-se no seu maior êxito à escala mundial. Já Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos (2009), com um estilo entre o policial e a comédia negra, afirma as suas convicções políticas e sociais. 

A sua obra, onde se encontram ainda incursões pela literatura infantojuvenil, com A Alma Perdida (2017) e pelos contos, com Histórias Bizarras (2018), está traduzida em mais de 30 línguas.

Louise Glück: a busca pela clareza na poesia austera

Por último, não podíamos deixar de destacar a mais recente galardoada com o Prémio Nobel da Literatura. Louise Glück é autora de uma obra poética de enorme carga emocional, distinguida pela beleza austera que a torna inconfundível.

Tinha apenas 25 anos quando publicou a sua primeira coleção de poemas, Firstborn (1968), e rapidamente foi apontada como uma das mais promissoras autoras da poesia americana contemporânea. Confirmando as expectativas, antes de ser galardoada com o Prémio Nobel da Literatura, Glück recebeu o Pulitzer, o National Book Critics Circle, o Los Angeles Times Book e o Wallace Stevens da Academia de Poetas americanos. 

A poesia da autora espelha as suas experiências pessoais, desde a luta contra a anorexia ao período em que fez psicanálise, mas também a procura por uma clareza universal, inspirada em mitos e motivos clássicos. The Wild Iris (1992), Proofs & Theories (1994), Averno (2006), A Village Life (2009), Poems: 1962–2012 (2012) e Faithful and Virtuous Night (2014) são alguns dos seus livros mais célebres.