Blog
07 de outubro de 2021
Abdulrazak Gurnah: O surpreendente vencedor do Nobel da Literatura
Livraria Lello foi ouvir a opinião dos bookstagrammers
Sandra Cavaleiro, Carolina Branquinho, Álvaro Cúria e Ludgero Cardoso têm em comum a paixão pelos livros e o facto de a partilharem com o mundo, através das suas páginas de Instagram. Todos acompanharam com grande ansiedade a divulgação do vencedor do Prémio Nobel da Literatura 2021. A convite da Livraria Lello, deixam aqui as primeiras reações.
Sandra Cavaleiro
Leituras descomplicadas
O mundo da Literatura está a viver os primeiros momentos após o anúncio do laureado com o Prémio Nobel de 2021. Abdulrazak Gurnah, desconhecido de grande parte dos portugueses, entra agora na nossa esfera e desperta a curiosidade de muitos leitores. Nascido em Zanzibar, na Tanzânia, em 1948, chegou ao Reino Unido 20 anos depois, como refugiado. É na Universidade de Kent que atualmente nos transmite a sua essência, enquanto homem, escritor e professor.
Foi-lhe atribuído o Nobel por colocar por escrito “os efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes”. O Nobel da Literatura é muito mais do que um simples prémio. A par do Nobel da Paz, ele permite dar voz a grupos com menor representatividade. Numa época em que é impossível ficarmos indiferentes ao sofrimento de migrantes, de refugiados e de grupos silenciados em todo o mundo, este prémio vai para além das páginas dos livros de Abdulrazak Gurnah.
Em Junto ao mar (único romance do autor traduzido para português), Gurnah conta-nos algumas “Refugee Tales”, mostrando que o “Paradise” pode existir, quase como “The last gift” num “Afterlives” em que não existe espaço para “Desertion”. Apenas para ser a voz que todos, no conforto do mundo ocidental, devemos ouvir e passar às próximas gerações.
Carolina Branquinho
Singularidade dos Livros
Há tanta literatura no mundo e acabamos, muitas vezes, por ler sempre sobre as mesmas temáticas... Prémios como o Nobel dão-nos a conhecer realidades diferentes, oferecendo novos mundos ao nosso mundo. Abdulrazak Gurnah é o novo Nobel da Literatura e o seu nome foi recebido com alguma surpresa. Com apenas um livro editado em Portugal (esgotado), é normal que fosse desconhecido por muitos leitores portugueses.
Gurnah nasceu em 1948, em Zanzibar, Tanzânia, mas vive em Inglaterra, para onde fugiu, na década de 1960, devido a convulsões políticas que levaram à perseguição de cidadãos de origem árabe no seu país natal. Esta temática dos refugiados pauta grande parte da sua obra e é o motivo apresentado pela Academia Sueca para o galardoar. Estou ansiosa que as editoras nacionais nos ofereçam a sua obra, pois é fundamental ler sobre estas temáticas tão importantes.
O romancista, que começou a escrever aos 21 anos e publicou o seu décimo romance, Afterlives, em 2020, é apenas o segundo negro africano galardoado com um Nobel da Literatura.
Álvaro Cúria e Ludgero Cardoso
Literacidades
Ficámos agradavelmente surpreendidos com a atribuição do Nobel a Abdulrazak Gurnah, um autor que desconhecíamos por completo, mas que, numa rápida pesquisa sobre sua biografia e obra, verificámos ser uma voz de extremo relevo em assuntos prementes, que nos interessam e para os quais a Humanidade deve estar sensibilizada. Que a Literatura possa contribuir para um mundo mais reflexivo, mais diverso, é atribuir-lhe um papel primordial.
Nascido no Zanzibar, Gurnah escreveu sobretudo em Inglaterra, país que o acolheu enquanto refugiado. A temática da sua obra, daquilo que nos foi dado a perceber numa primeira pesquisa, passa pelos estudos pós-colonialistas, a vivência dos refugiados entre culturas e continentes, procurando sempre uma verdade que foge à explicação simplista. Um dos aspetos que mais curiosidade despertou foi o facto de Gurnah nos apresentar uma África plural, multicultural, e não o retrato de um continente uniforme.
Gostamos quando a Academia nos surpreende com uma escolha totalmente fora da caixa, deitando por terra os nomes mais expectáveis. Mostra-nos que, após um processo de seleção muitíssimo rigoroso, a escolha pode representar uma novidade, uma descoberta para a extensa maioria dos leitores. Aguardamos a publicação da sua obra em Portugal!
SOBRE OS AUTORES:
Carolina Branquinho tem 25 anos e, porque adora ler e partilhar as suas leituras, criou, em 2018, a página de Instagram Singularidade dos Livros (@singularidades.dos.livros). Gosta muito de acompanhar o anúncio do Prémio Nobel da Literatura e de descobrir os escritores galardoados e as suas obras, “pois é uma forma de conhecer novos autores e novas culturas”.
Álvaro Curia e Ludgero Cardoso dão vida ao perfil literário de Instagram Literacidades (@literacidades). Em conjunto, escrevem também para o blog e revista literária WookAcontece. Álvaro é portuense, professor de português para estrangeiros e investigador. Com formação em Jornalismo, já trabalhou em vários órgãos de comunicação nacionais. Ludgero é um recém-portuense e dedica-se a tempo inteiro à criação de conteúdos digitais. É formado em Educação, mas é no marketing digital que se vê a trabalhar no futuro.